segunda-feira, 18 de abril de 2011

''para nos lembrar que o amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cura''

Às vezes sentimo-nos sós e desejamos uma pessoa. Desejamos uns braços a nossa volta, umas mãos nas nossas mãos, um beijo como o primeiro, um passeio a dois e fazemos muitos planos. Às vezes gasta-mos manhãs, tardes e noites a construir o futuro e a agir como se esse futuro fosse já o nosso presente. Sem darmos conta, entregamo-nos a alguém que ainda não descobrimos, alguém por quem esperamos todas as manhãs enquanto comemos o pão e bebemos o leite, todas as tardes em que nos rendemos à cadeira do jardim cheio de tulipas le-mos um livro na esperança de encontrar-mos frases com que nos identifiquemos e todas as noites onde a solidão nos corroi as veias e somos obrigados a vegetar ou fingir que está tudo bem e que vai passar e que em breve vamos ser felizes. Então esse dia chega. Chega o dia em que voltamos a jurar amor eterno e voltamos a ouvir essas juras. Pensa-mos então que amar chega e volta-mos a criar uma teia de ilusões agindo como aranhas loucas com vontade de tecer mais mais mais e mais. A felicidade escasseia dia para dia, noite para noite e voltamos a sentirnos sozinhos mesmo ao lado da pessoa que pensamos amar. O amor começa a destruir-nos os tecidos cravando os orgãos com veneno e é por isso que quando nos partem o coração nos doi tudo. O amor espalha-se por todo o corpo sem dar-mos por isso. E então a aranha decide ir embora. Primeiro desfaz a teia e depois parte. E com ela se vai o resto da felicidade , esperança e todos os planos onde gastamos manhãs tardes e noites. O amor não é a cura. O amor é a doença. Actua como um veneno letal.

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